colunista do impresso

Na volta às aulas, o que as crianças precisam?

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Não gosto de máximas do tipo: "é nas crises que aprendemos". Prefiro pensar que não precisamos de crises, de desastres para repensarmos o modo como vivemos. Nesse momento de pandemia escutamos que ela tem servido para que os agentes públicos, os pais, os empresários, a imprensa, os economistas, enfim, para que todos identificassem o óbvio: que a educação das crianças é importante.

Alguns economistas já estão calculando qual o prejuízo para o PIB (Produto Interno Bruto) do país se as escolas ficarem fechadas por mais de seis meses. Eu hein! Todos estão descobrindo que a educação é a base para uma sociedade melhor. Falo da parte da educação que acontece na escola. Parece que foi feita a grande descoberta: a escola é uma instituição importante.

Se a escola é importante ela precisa ter banheiros bem cuidados e equipados com sabão, papel higiênico; espaços limpos e ventilados; ter salas de aula bem acolhedoras; precisa de espaços ao ar livre; ter água de boa qualidade à disposição das crianças. Aqui em Santa Maria tivemos, em 2019, uma escola que ficou sem água porque o reservatório estragou e não tinha outro para substituir.

A escola ficou sem reservatório de água por um ano. Isso é um fato, e, como dizia o educador Antônio Candido (1918-2017), contra fato não há argumento. Todos também lembraram que na escola trabalham alguns profissionais, entre os quais, os(as) professores(as). Se a educação é importante, se a escola é importante, então os profissionais que nela trabalham também são importantes, portanto, deveriam ganhar salários adequados.

Quando digo adequados, o parâmetro poderia ser, por exemplo, o mesmo piso salarial de ingresso na carreira pública de todos os outros profissionais que ingressam na mesma carreira com o mesmo grau de exigência de formação: graduação no ensino superior. Por exemplo: salário equivalente ao de um delegado de polícia, um economista, um médico, um enfermeiro, um engenheiro, etc. Essa equiparação, que pode ser feita, seria um sinal de que estamos falando sério. E poderíamos começar a conversar honestamente.

Além dessa breve reflexão, quero falar de outro aspecto que considero tão ou mais importante que as condições materiais da escola e até mesmo dos ditos conteúdos. Refiro-me às emoções que precisam se fazer presentes na escola. Falo de solidariedade, de generosidade, de acolhimento, de aceitação mútua, de respeito mútuo, do deixar o outro aparecer. Estou falando da emoção na qual todos nós, animais da espécie humana, somos peritos: a emoção do amor. Sim, todos os animais são seres do amor, nós, seres humanos, somos especialmente dependentes do amor.

Somos amordependentes. Nós professores(as) precisamos mostrar isso aos gestores públicos. Claro que para mostrarmos isso teremos que acreditar nisso. Aos colegas professores(as) peço que fiquem calmos. Não estou propondo algo mágico, impossível ou do campo religioso e nem mais uma tarefa aos colegas. Estou propondo algo muito fácil de fazer. O motivo é simples. Todas as crianças nascem amando.

As crianças não nascem odiando ninguém. Nenhuma criança nasce para ser violenta, preconceituosa, corrupta, etc. As crianças aprendem isso com os adultos com os quais convivem. O papel da escola, de qualquer boa escola é, simplesmente, deixar as crianças exercerem algo com o qual elas nascem: a capacidade de amar incondicionalmente o outro. Não precisamos de nenhuma pandemia para nos mostrar o óbvio: as crianças não precisam ser ensinadas a amar. Elas só precisam que nós, adultos, não as atrapalhemos com tantas teorias pedagógicas, na maioria, importadas de além-mar. Quando retornarmos às aulas poderíamos começar conversando sobre isso. Em tempo: no dia 19 último, o educador Paulo Freire completaria 99 anos se vivo estivesse. Não sei por que me lembrei dele agora.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer Anterior

PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

Direitos humanos: uma pauta de todos Próximo

Direitos humanos: uma pauta de todos

Colunistas do Impresso